Na última sexta-feira (13), dentro da programação do Dia do Patrimônio, foi celebrado o registro oficial da Lei Municipal 6.915/21, de autoria do vereador Paulo Coitinho (Cidadania), que declara o instrumento musical Sopapo como Patrimônio Imaterial da cultura pelotense. A oficialização foi feita pela prefeita Paula Mascarenhas, em solenidade restrita a convidados, realizada no Salão Nobre do Paço Municipal. A secretária estadual de Cultura, Beatriz Araújo, acompanhou o ato.
"É de extrema importância que possamos reconhecer o Sopapo, que é tão pelotense e faz parte da construção da nossa sociedade. No dia de hoje, damos voz e vez a esse grande instrumento que é um símbolo de resistência", destacou a prefeita Paula.
O secretário de Cultura do Município, Paulo Pedrozo, fez a entrega de um exemplar do Tambor de Sopapo à diretora do Museu Júlio de Castilhos, Dóris Couto. O instrumento será incorporado ao acervo da instituição estadual por meio do processo de musealização. Em novembro, está prevista uma exposição no local contando a história do objeto musical.
"Esperamos que não seja só um ato de reconhecimento, mas que represente a transformação social e a renovação a esses processos de preconceito. Que tudo que está acontecendo nos ensine a ser seres humanos melhores", afirmou Pedrozo, durante a cerimônia.
Nascimento do projeto
A iniciativa consolida uma caminhada que se iniciou com o projeto CaBoBu – que recebeu esse nome em homenagem aos mestres Cacaio, Boto e Bucha –, nos anos de 2000 e 2001, por iniciativa do músico Gilberto Amaro do Nascimento, o Giba Giba (1940-2013), e do Mestre Baptista (1936-2012).
Em 2009, a proposta chegou à Câmara pelo então vereador Ademar Ornel, mas o projeto nunca foi protocolado. Após ter permanecido arquivado por 12 anos, a matéria voltou a tramitar por solicitação do Projeto Museu do Percurso Negro, tendo como autor o vereador Paulo Coitinho (Cidadania), que também encaminhou o assunto para a Secretaria de Cultura do Estado para que o reconhecimento ainda seja feito a nível estadual, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE).
"Esta certificação é uma reparação cultural que Pelotas faz nesta data. Portanto, é um dia de muita alegria para mim, enquanto mandatário, e para o povo negro pelotense", destacou o vereador.
Participaram do ato de reconhecimento o secretário de Governo e Ações Estratégicas, Fábio Machado, o diretor do Theatro Sete de Abril, Giorgio Ronna, o assessor especial de Relações Institucionais, Henrique Pires, o secretário de Cultura, Esporte e Lazer de Rio Grande, Luís Henrique Drevnovicz, além dos filhos do Griô Mestre Batista e Giba Giba, José Baptista e Edu Nascimento, respectivamente, e o coordenador do Museu do Percurso Negro de Pelotas, Luiz Carlos Mattozo.
Justificativa
A justificativa para a inserção do instrumento Sopapo no Inventário de Bens Imateriais do Município se justifica por ele ser considerado um símbolo da memória africana, que acompanhou os escravos como talismã de sua resistência. O “Grande Tambor” surgiu nas Charqueadas, época que era usado nos rituais de matança, e foi inserido nas festas carnavalescas por volta de 1940, até quase ser extinto nas décadas de 1970 e 1980, antes de ser resgatado, mais uma vez, pelo projeto CaBoBu.
A lei municipal, oficializada na sexta-feira, busca o devido respeito e a preservação da cultura negra, de fundamental importância na formação do Município, reparação das violências históricas vivenciadas pela população negra e agradecimento àqueles que mantiveram a história do Sopapo viva até os dias de hoje.
“O sopapo não é apenas um tambor, é um símbolo da nossa cultura, um talismã do negro, símbolo de respeito aos nossos ancestrais. Ele está diretamente relacionado à vida do negro pelotense nas charqueadas e à história da própria comunidade”, pondera o luthier, músico e compositor José Batista, autor do livro “O Sopapo Contemporâneo – Um Elo com a Ancestralidade”, lançado recentemente, e filho do Mestre Baptista.
Fonte: Prefeitura de Pelotas
Foto: Gustavo Vara
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