O Mercado Público de Pelotas é um espaço territorial que simboliza a troca e a comunicação entre as diversas culturas que constituem a formação da cidade de Pelotas, representadas pela estátua do deus Mercúrio. Entretanto, o mercado também representa, para o povo de terreiro, um espaço civilizatório de troca de energia e de força vital, como símbolo de resistência e manutenção do patrimônio da cultura afro-religiosa do Batuque do Rio Grande do Sul. A matriz africana também faz parte das culturas que constituem a sociedade pelotense, mas não se vê representada por um deus mitológico grego.
Em 1º de julho de 2021 foi instalado um adesivo no centro do Mercado Público de Pelotas, proposto como instrumento demarcatório da tradição de matriz africana e afro diaspórica no município. É considerado como referência o marco existente no Mercado Público de Porto Alegre, preservando as características do nosso município. No adesivo, as chaves e correntes ao centro representam o elo de ligação ao Orixá Bará, e a moldura com imagem em volta remete a matriz afro diaspórica. A arte é de autoria de Babalorixá Juliano de Oxum e a produção é de Letícia Ost Farias. A proposta surgiu da gestão 2018/2022 do Conselho Municipal do Povo de Terreiro de Pelotas, tendo Babalorixá Juliano de Oxum como Presidente, Babalorixá Gilson Lobo de Xangô como Vice presidente, Iya Sandrali de Oxum como Secretária Geral e Helenira Brasil como Secretária Executiva.
O ato também potencializa a Lei 10.639\03, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira, e a lei 12.288/10, o Estatuto da Igualdade Racial, que garante em seu capítulo III a liberdade de consciência e de crença e o livre exercício dos cultos religiosos, combatendo a intolerância com as religiões de matriz africana e a discriminação de seus seguidores.
No Estado do Rio Grande do Sul, Pelotas talvez seja a cidade com maior influência cultural de matriz africana: a cidade foi o centro da economia das charqueadas, responsável pelo maior contingente de escravos do RS. São de Pelotas algumas das mais importantes referências da cultura afro-gaúcha, seja na música (Giba-Giba, Giamarê), na cultura (os clubes culturais negros, como o Fica Ahi Pra Ir Dizendo e o Chove não Molha), na religiosidade (Babalorixá João Carlos Flores de Oxalá) ou nas letras (o jornal A Alvorada). Dentre os legados mais importantes da cultura africana à cultura brasileira estão o samba (a música nacional por excelência) e a umbanda (a religião genuinamente brasileira).
Além disso, os tradicionais doces pelotenses, tombado como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e que tornaram Pelotas nacionalmente conhecida, receberam contribuição negra nas receitas e preparo de forma ampla. Muito além de “apenas mexer os tachos", as mãos negras produziam os doces finos para consumo da alta sociedade do charque.
Fonte: CMPTP e Diário Popular
Foto: Divulgação
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