O jornal A Alvorada circulou entre 1907 e 1965 com pequenas interrupções, sendo provavelmente o mais longevo periódico representante da imprensa negra brasileira. O jornal discutia questões da negritude e formas para enfrentar as questões sociais, tendo uma grande relevância para a construção de uma identidade negra em Pelotas e região. O jornal teve inicíco com a família Penny, cuja matriarca, Clarinda, foi escravizada e conseguiu comprar sua alforria ao ganhar um prêmio da loteria. Os filhos de Clarinda, os intelectuais negros Antonio Baobab, Rodolfo Xavier, Juvenal e Durval Marena Penny, fundaram o jornal, e a família agora tem sua história contada em livros ilustrados.
O periódico ficou conhecido como “a voz da população negra em Pelotas”. A ideia surgiu devido à necessidade de representatividade negra nos espaços sociais, pois mesmo após a abolição da escravatura em 1888, através da Lei Áurea, ainda havia um racismo institucional e a população seguia marginalizada.
O jornal circulava aos domingos, poderia ser assinado ou comprado em bancas, barbearias e no Mercado Central. Ele circulava não apenas em Pelotas, mas em Rio Grande, Canguçu, Bagé, Jaguarão e Alegrete, e tinha como objetivo retratar em suas páginas histórias e notícias sobre a população negra e operária, além de denunciar os casos de racismo no meio regional, nacional e até internacional.
A Alvorada tornavam públicas discussões sobre negritude brasileira e a necessidade de união para enfrentar as questões sociais. Também era espaço para divulgação de eventos da cultura afro.
Anos depois, as pesquisas da professora emérita da UFPel, Beatriz Ana Loner, inspiraram a criação de sete livros de ilustração do designer gráco e ilustrador, Jorge Penny, descendente da família fundadora do jornal, que atualmente reside na Espanha. Falecida em 2018, Beatriz deixou um grande legado ao estudar a comunidade negra da região, clubes carnavalescos negros, abolição e pós-abolição, tendo impactado signicativamente na produção intelectual sobre essas temáticas na historiografia gaúcha.
Jorge Penny conta que sempre teve interesse nas histórias familiares e que, em 2005, tentou fazer uma árvore genealógica a partir das histórias contadas pela mãe e pela tia. "Deu tudo errado, ninguém conhecia a origem do sobrenome Penny. Eu sabia que o nome do meu avô era Juvenal Moreno Penny e que teve um jornal chamado A Alvorada. Na época, pesquisei na internet, mas não encontrei nada", disse Jorge.
Passado algum tempo, em 2008, Jorge voltou a pesquisar sobre a família e foi surpreendido com um grande número de documentos relacionados à família Penny. "Sem dúvida nenhuma, o trabalho da professora Beatriz foi fundamental para conhecer a verdadeira origem do sobrenome da nossa família e construir uma árvore genealógica real", armou.
Foi assim que Jorge resolveu criar os livros que misturam informações encontradas nas pesquisas da professora Beatriz Loner e de outros pesquisadores, com lembranças familiares e da infância do autor.
Para Jorge Penny, a criação dos livros e o conhecimento sobre a história da família Penny não teria sido possível sem o trabalho dos pesquisadores da UFPel. "Sem dúvida nenhuma esse foi o resultado de um grande trabalho de historiadores e documentalistas e de uma política real de recuperação da memória do Brasil. O conhecimento liberta e ilumina", finaliza o autor.
Nos livros Jorge faz um agradecimento ao Núcleo de Documentação Histórica da UFPel (NDH), à professora Beatriz Loner e outros pesquisadores e egressos da UFPel que também contribuíram com suas obras. Para a coordenadora do NDH, professora Lorena Gill, trabalhos como o feito por Jorge Penny fazem com que a história seja acessível a um público maior, que não apenas aquele circunscrito à academia. "Os textos e as ilustrações do autor, que tem como base pesquisas históricas relevantes, criam novos diálogos, que permitem responder às demandas da sociedade", explica.
Fonte: Diário Popular e ADUFPEL
Foto: E-cult
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